publicação no blogue FORNECIDO POR AMY HINSLEY E ANA NUNO
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Novas ferramentas de conservação
Muitos desafios em conservação estão diretamente relacionados com o comportamento humano. Quer seja a recolha excessiva de uma orquídea rara no Sudeste Asiático, ou a compra e contrabando dessas orquídeas por colecionadores na Europa, entender a magnitude e a natureza desses comportamentos é essencial para lidar com as ameaças que eles podem causar. Isso levou os investigadores e profissionais da área de conservação a começarem a olhar para fora da sua própria disciplina, de modo a encontrar métodos e abordagens das ciências sociais para melhorar a nossa compreensão sobre estas questões complexas.

Embora esta interdisciplinaridade seja um passo positivo para a conservação, é importante tratar esses “novos” métodos com cuidado e entender as suas limitações. Se não o fizermos, existe o risco da nossa nova caixa de ferramentas, repleta de métodos interessantes que soam bem em candidaturas a financiamento, na verdade não melhorar aquilo que nós geralmente já fazemos ou, em casos extremos, até piorá-lo.
Tendo isto em conta, um grupo de cientistas sociais em conservação, liderado por investigadores das Universidades de Oxford e Exeter, decidiu examinar em profundidade um desses “novos” métodos, fornecer recomendações sobre quando e como ele deveria ser usado, e quando não deveria. O artigo, disponível gratuitamente na revista científica Methods in Ecology and Evolution nesta semana, examina a Técnica de Contagem de Itens (TCI), que tem sido cada vez mais usada em conservação para fazer perguntas sobre tópicos “sensíveis”.
O que é a Técnica de Contagem de Itens?
A equipa reviu todos os estudos publicados em revistas científicas que usaram a TCI e, juntamente com aprendizagens resultantes das suas próprias experiências, desenvolveu um conjunto de recomendações. Descobrimos que, desde que a TCI foi desenvolvida em 1979, esta técnica foi usada em mais de 50 países e em várias disciplinas.
Este método faz perguntas de maneira indireta, permitindo que o respondente permaneça protegido e anónimo, resultando em respostas mais verdadeiras. Até agora tem sido usado principalmente para investigar tópicos sobre os quais os entrevistados podem querer esconder informação, incluindo comportamentos ilegais (por exemplo, roubar), mas também comportamentos que podem ter vergonha de admitir abertamente a um investigador, como os assuntos socialmente indesejáveis (por exemplo, visões racistas), ou tópicos muito pessoais (por exemplo, ser HIV positivo). Também pode ser usado para descobrir quantas pessoas realmente apoiam ou participam em comportamentos socialmente desejáveis que podem ser exagerados para impressionar outras pessoas, como a reciclagem ou a votação.
Impressionados com o potencial do método, a TCI foi usada pela primeira vez por cientistas em conservação em 2013, e tem crescido em popularidade desde então, com cinco estudos científicos em conservação publicados apenas em 2017.
Como funciona?
Uma das maiores atrações da TCI é que ela parece tão fácil – as perguntas consistem numa pequena lista de itens, e os entrevistados são solicitados a dizer quantos itens são verdadeiros para eles. Estas listas também podem incluir desenhos para tornar o método mais interessante e mais fácil de entender, especialmente onde os níveis de alfabetização são baixos.
Uma amostra aleatória de 50% dos entrevistados recebe uma lista que inclui apenas itens não sensíveis (sombreado azul no exemplo sobre o comércio ilegal internacional de orquídeas), enquanto a outra metade vê uma lista que inclui também um item sensível (amarelo sombreado neste exemplo).
Com base nas respostas de todos os participantes, a diferença na resposta média entre o grupo controlo e o de tratamento revela a proporção de pessoas que estão envolvidas no item sensível, neste caso: que percentagem das pessoas entrevistadas fazem contrabando de orquídeas.
Como usar esta técnica corretamente?
Embora possa parecer fácil produzir algumas listas e pedir a pessoas que respondam à pergunta, na verdade não é assim tão simples e há várias etapas que são importantes para planear um estudo recorrendo a TCI.
Resumidamente:
- Escolher o item “sensível” com cuidado
- Gastar tempo suficiente a planear cuidadosamente as listas controlo “não sensíveis”
- Fazer um estudo piloto e testar as listas controlo, o item sensível e toda a TCI, de preferência recorrendo a pessoas que representam adequadamente a amostra a ser estudada.
- Decidir o que mais incluir no questionário (isso depende do tópico a ser investigado)
- Considerar cuidadosamente como implementar a TCI – será administrada em pessoa ou online? Vão ser usadas imagens ou listas escritas?
Não considerar essas etapas pode significar que uma aplicação da TCI pode não ser tão eficaz quanto poderia ser. Isso é especialmente importante pois esta técnica precisa de amostras grandes, e pode ser um desperdício de fundos e escassos recursos de conservação se for usada quando não for necessária ou se não for bem aplicada.
A TCI deve ser usada em todos os projectos?
A TCI requer algum tempo para administrar corretamente e não é adequada para todos os problemas. Vários fatores devem ser considerados antes de decidir usar este método. Estes incluem o tipo de assunto a ser investigado, como se pretende fazer o estudo e quantas pessoas serão entrevistadas (o que indiretamente depende de quanto tempo e dinheiro há para fazer o projeto):
Os métodos de ciências sociais desenvolvidos noutras disciplinas são úteis e não devemos parar de tentar aumentar a gama de técnicas disponíveis que podem melhorar a forma como trabalhamos em conservação. No entanto, também temos que aceitar que, assim como considerar os benefícios do uso de um novo método, também há a responsabilidade de investigar as suas possíveis limitações e ter em conta o trabalho necessário para fazê-lo corretamente.